6 de julho de 2011

O impacto de Rushdoony Parte - 2

Rushdoony e os “Ismos” Hermenêuticos


     Rushdoony tinha suas preferências ao tratar com o livro de Apocalipse.
Ele adotou a abordagem idealista. O idealismo trata a maior parte do livro como lidando como o período inteiro entre os adventos de Cristo, não necessariamente na ordem cronológica, com algumas passagens se referindo a coisas celestiais em vez de terrenas. Em outras palavras, o idealismo é uma abordagem do Quadro Geral: Apocalipse cobre muitos séculos de tempo.

     O historicismo concorda com o idealismo que o Apocalipse descreve o período inter-advento, mas diferente dele, vê uma clara sucessão cronológica na narrativa de João. O comentário do dr. Francis Nigel Lee sobre Apocalipse é um forte exemplo de uma obra pós-milenista escrita a partir da perspectiva historicista. O dr. Rushdoony e o Dr. Lee tinham as melhores relações, e Rushdoony respeitava e apoiava o historicismo do Dr. Lee, a despeito de sua preferência permanente pelo idealismo.

     O preterismo parcial trata Apocalipse predominantemente como uma descrição do divórcio de Deus de Israel e seu despojamento. Entende-se que o livro foi escrito antes da queda de Jerusalém com base numa evidência interna reconhecidamente forte. À luz disso, poderia se considerar que a maior parte de Apocalipse cumpriu-se no primeiro século depois de Cristo. Rushdoony não somente respeitava o preterismo parcial, mas apoiou a publicação de comentários que promoviam essa abordagem do livro de Apocalipse. Ele fez isso, embora em última instância discordasse desses volumes, o que indica a importância que ele atribuía em estender a erudição bíblica a todas as áreas plausíveis que fossem relevantes para a questão pós-milenista.

     O leitor deveria observar que nenhuma dessas abordagens para interpretar Apocalipse são intrinsecamente pós-milenistas. Por exemplo, entre os amilenistas alguém pode encontrar idealista (e.g., William Hendriksen) e preteristas parciais (e.g., Jay Adams). O futurismo (associado primariamente com a erudição pré-milenista) também pode cruzar fronteiras teológicas.

     Portanto, qualquer abordagem hermenêutica de Apocalipse pode seguir uma das diversas encruzilhadas teológicas que se apresentam no caminho. A tenda teológica de Rushdoony é maior que a maioria dos seus discípulos estaria disposto a considerar. Uma fração significante deles tem optado pelo preterismo parcial como a última palavra na interpretação profética, uma visão que Rushdoony teria rejeitado. Acho que ele concordaria com a minha avaliação que, num exame criterioso amigável, o preterismo parcial deve ser freqüentemente tirado do Pedestal da Certeza para o mais modesto Palco da Plausibilidade, isto é, que é prematuro tratar o preterismo parcial como se esse fosse canônico.

     Mas Rushdoony desejava ardentemente que esse espírito de exame detalhado continuasse e que fosse praticado no melhor espírito da erudição conservadora cristã. A abordagem da sua grande tenda só poderia reforçar o pós-milenismo, segundo ele entendia. Os campos entrincheirados de hoje não adotam a abordagem inclusiva de Rushdoony. Os herdeiros de Rushdoony receberam sua perspectiva pós-milenista, mas têm colocado as suas heranças hermenêuticas numa única cesta. O grande milagre é que há o suficiente de pós-milenistas ao nosso redor para discordar sobre o assunto. Estaríamos numa melhor forma se mais eruditos pós-milenistas adotassem a posição do dr. Kenneth Gentry, que é em primeiro lugar um pós-milenista, e somente depois um preterista parcial. Quando as prioridades sábias prevalecem, segue se um progresso contínuo.


O que dizer sobre a Teologia da Substituição?


     Muitos cristãos são sensíveis ao lugar de Israel no plano para o futuro, particularmente com respeito às antigas promessas que Desfez solenemente. Muitos dispensacionalistas (ainda que não todos) estão dispostos a criticar qualquer usurpação ou violação aparente das promessas feitas a Israel, promessas às quais eles afirmam a Igreja não ter direito. É sustentado que ao se confundir a Igreja com Israel, a teologia se torna perigosamente distorcida. Se as promessas percebidas como tendo sido feitas a Israel são aplicadas à
Igreja, arrazoam estes eruditos, então o que temos aqui é uma substituição ou reposição de Israel pela Igreja. A posição criticada tem recebido muitos rótulos: teologia da reposição, teologia da substituição, substitucionismo ou suplantacionismo (a igreja suplanta a Israel), etc., mas a idéia fundamental sendo criticada é a mesma: tal posição rouba a Israel.

     À primeira vista, um estacionamento não se parece com um seminário muito bom, mas R. J. Rushdoony por um breve tempo transformou um estacionamento de Los Angeles num seminário para o meu benefício em 1981, explicando o significado de Isaías 19:1825 enquanto o barulho do trânsito rugia atrás de nós. Os três versículos finais dizem assim:

Naquele dia haverá estrada do Egito até à Assíria, e os assírios virão ao Egito, e os egípcios irão à Assíria; e os egípcios servirão com os assírios. Naquele dia Israel será o terceiro com os egípcios e os assírios, uma bênção no meio da terra. Porque o SENHOR dos Exércitos os abençoará, dizendo: Bendito seja o Egito, meu povo, e a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança. 23-25

     Por que Israel não é o primeiro? Qual o motivo de Israel ser mencionado como “o terceiro” (v. 24)? Porque a profecia de Isaías ensina que o Egito e a Assíria servirão fielmente a Deus antes de Israel fazê-lo. Na verdade, o Egito construirá um altar que Deus honrará (v. 19) e jurará pelo nome de Jeová e fará votos e oferecerá ofertas a Ele (v. 21). Os inimigos de Israel entram no Reino de Deus primeiro. A discussão de Paulo em Romanos 11 é um comentário extendido sobre essa passagem de Isaías 19. Todos os gentios entrarão (representados por Egito e Assíria), e então Israel será salvo (tornar-se-á a terceira parte, sequencialmente).

     O pós-milenismo concorda com Paulo que muitos ramos foram quebrados por causa de incredulidade (Rm. 11:20), mas Deus é capaz de enxertá-los de volta. Se Deus enxerta Israel de volta, como é que Israel perde alguma de suas promessas? Rushdoony, apoiando a abordagem Puritana de Romanos 11:25-26, revelou o ponto fraco de seus críticos. Se há alguma substituição, como é sancionado pelo grande profeta Isaías do Antigo Testamento, ela é claramente temporária. Deus é capaz de enxertar de novo os ramos naturais, assim como Ele enxertou os ramos silvestres (os gentios). Que Ele faz isso no sentido plenamente literal das palavras que aparecem em Romanos 11:25-26 é o que as formas mais puras de pós-milenismo ensinam incessantemente.

     O pós-milenismo, como recebemos dos últimos escritos de Rushdoony sobre o tema, não nos dá uma teologia de reposição, mas sim uma teologia de reenxerto. Este retorno do pensamento Puritano para o pós-milenismo é talvez outra razão pela qual a versão de Rushdoony foi chamada de pós-milenismo teonônimo para distingui-lo da teologia evangélica, que por seu tom estava mais próximo de um amilenismo otimista e também com respeito ao assunto do suplantacionismo. Ao limpar o caminho traçado pelos Puritanos, o pó-smilenismo se tornou mais imune à acusação, a qual pode ser vista estar, no mínimo, seriamente fora do lugar. Isso é especialmente verdadeiro com respeito à exposição de Rushdoony sobre Gálatas 4:22-31. É porque a Jerusalém física corresponde à escrava Agar (v. 25), e portanto deve ser lançada fora e não se tornar uma herdeira juntamente com o filho da livre (v. 30), que a promessa ao Israel genético não pode se realizar à parte do reenxerto dos ramos naturais dos quais Paulo fala em Romanos 11.

     Resumindo: Rushdoony não promoveu uma teologia de reposição, mas sim uma teologia de reenxerto. Entre essas duas há toda a diferença do mundo.

Rushdoony, o Inovador:
Tomando a Pílula Vermelha


     No filme Matrix, as pessoas escravizadas ao sistema recebiam uma oportunidade. Uma pílula vermelha e uma pílula azul era apresentada a elas. Tome a pílula azul, e você acordará crendo no que você quer crer, com o status quo preservado. Tome a pílula vermelha, e você verá quão fundo é o buraco do coelho, e sua vida mudará radicalmente como conseqüência do despertar concomitante.

     O monógrafo de Rushdoony de 41 páginas, God’s Plan for Victory: The Meaning of Postmillennialism, é essa pílula vermelha. Ele é pequeno e despretensioso. É realmente uma exposição muito pobre do pós-milenismo, particularmente a partir de um ponto de vista exegético. Esse não é o propósito desse breve livro: esta tarefa é deixada para outros volumes e outros eruditos. Este livro se propôs a uma tarefa absolutamente singular e notável, e obteve êxito de uma forma revolucionária. Neste volume, Rushdoony expõe o significado de uma escatologia para a vida real, seu efeito sobre o caminhar cristão e no mundo como um todo. Uma leitura superficial poderia levar o principiante a crer que é uma peça de rajada teológica. Uma leitura cuidadosa revela que Rushdoony preparou uma dinamite cultural numa forma altamente compacta. Ele chega perto de ser um livro “para aqueles que têm ouvidos, ouçam”. Os que estão casados em primeiro lugar com uma escatologia e com a ética bíblica em segundo lugar, deixarão o livro de lado. Aqueles que percebem que Deus nos julga por nossos atos e não por nossas orientações teológicas, continuarão para encontrar alimento para a mente ali, sejam eles amilenistas, dispensacionalistas ou indecisos. Homens que dirigem suas vidas, não pelo que eles sentem que a Escritura prediz, mas pelo que sabem que a Escritura ordena, colocarão Rushdoony ao seu lado. É apropriado que suas críticas estejam necessariamente dirigidas à maioria, mas não àqueles que são fiéis à Palavra de Deus.

Considere esses importantes insights que Rushdoony compartilha em
God’s Plan for Victory (ênfase adicionada):

     Se, em termos de Mateus 6:33, cremos que o Reino de Deus e sua justiça têm prioridade em nossas vidas, então não teremos uma visão da salvação centrada no eu…

     Com grande freqüência os homens retêm aspectos desse pecado original ao insistir que a salvação é o centro do plano de Deus. Deus busca a Sua própria glória e propósito; nosso lugar em Seu plano não é o centro…

     É arrogante para o homem, em divergência clara da Palavra de Deus, ver a si mesmo como mais importante no plano de Deus que o próprio Deus! Tal visão é um eco do pecado original do homem. (p. 3)

     Uma atitude antinomiana garante a impotência e a derrota de todas as igrejas que a mantém. Elas podem prosperar como conventos ou retiros do mundo, mas nunca como um exército conquistador de Deus.

     [Conseqüentemente], o papel da Igreja… é o de ser, não apenas uma agência de salvação de almas, mas também um convento, um retiro do mundo horrível ao nosso redor… o Protestantismo transformou a Igreja toda num retiro do mundo, faltando apenas o celibato sacerdotal. Os homens são chamados a retirar-se do mundo para a igreja. (p. 11)

     Um erudito secular, George Shepperson, comentou: “O pré-milenismo sempre significa uma profunda desconfiança nas forças ortodoxas de reforma abertas à sociedade”. Esse é um ponto de grande importância… os grupos milenaristas são hostis à reforma e reconstrução… Em minha experiência dentro de uma das principais igrejas norte-americanas, vi pré-milenistas deliberadamente, e por declaração expressa diante de mim, chegar tarde em reuniões-chave onde seu voto poderia ter conduzido à reconquista de um sínodo, pois recusavam estar envolvidos numa tentativa de “reformar” a igreja; isso era para eles uma atividade “não-espiritual”, e eles se sentiam seguros que a apostasia era algo ordenado por Deus como um prelúdio do “arrebatamento”. (pp. 20-21).

     O Pietismo via a vida em termos essencialmente emocionais e pessoais… o objetivo do homem era visto como umas férias eternas com o Senhor. O Pietismo produziu uma vida superficial: intelectual e vocacionalmente. (p. 27)

     Uma falácia das visões pré-milenista e amilenista é a suposição comum que a Queda frustrou de alguma forma o propósito original de Deus como apresentado no Éden. Mas Deus nunca é frustrado, e nem pode ser. Crer nisso é ser um humanista, e o humanismo, onde quer que esteja, deve ser estrangulado, pois assume que os caminhos do homem devem prevalecer sobre os caminhos de Deus. (p. 28)

     Aposentadoria é um princípio moderno, a reprodução secular da idéia de um arrebatamento… O arrebatamento e a aposentadoria são assumidos falsamente e significam uma rendição; eles consideram uma retirada de exercer o domínio como um privilégio, ao invés de uma tragédia ou sofrimento. (p. 29)

     A geração do arrebatamento é a geração inútil. (p. 38)

     Há uma multidão de excelentes recursos que servem de apio exegético para o pós-milenismo: os históricos, procedentes dos grandes eruditos bíblicos dos séculos passados, e um número sempre crescente de livros e conferências modernos, que são cada vez melhores. Mas entender o significado dessa abordagem das Escrituras significa captar as implicações dessepioneiríssimo monógrafo de Rushdoony.


O Ponto Final


     No segundo volume da Systematic Theology de Rushdoony,ele investiga o significado do termo escatologia (e é ainda mais diligente nesse sentido durante a conferência gravada que deu origem ao texto escrito). Nas páginas 785-786, ele observa que o termo pode se relacionar, não apenas com os tempos finais para o mundo, mas com um ponto final. Como diz Rushdoony: “o ponto final pode chegar com a morte de um homem, o julgamento de uma família, de uma instituição, ou de um povo. Nesse sentido, a história está continuamente testemunhando pontos-finais ou eschatons” (p. 785).

     Por que essa distinção é tão crucial? Não é um desvio ou distração da assim chamada escatologia cósmica, o fim do mundo, etc.? Esse negócio de ponto final é ao menos importante?

     Sem dúvida! O homem moderno usa muitos modelos diferentes para descrever, por exemplo, o destino de uma nação ou cultura. O modelo balísticofoi popular no passado, no qual encontramos a linguagem de trajetórias para descrever culturas, como no livro The Rise and Fall of the Roman Empire [Ascensão e Queda do Império Romano]. O modelo orgânico, que compara culturas e sociedades com um ser vivo, também já foi popular, e nele se alude ao nascimento, infância, adolescência, maturidade, envelhecimento e morte de uma nação ou cultura. Você notará que todos esses modelos omitem Deus e Seu governo providencial sobre o mundo. O destino das sociedades humanas não se expressa em termos de sua fidelidade ao pacto ou ausência desta, mas descansa sobre a suposição da inexistência de Deus ou (o que equivale ao mesmo) Sua irrelevância.

     É aqui onde a abordagem da escatologia por Rushdoony entra em novo terreno crítico, pois ela vê a mão de Deus o Senhor em ação contínua, refletindo através disso, Sua fidelidade à Sua própria Palavra. Muitos cristãos hoje estão encarando o futuro à espera do desenrolar de um suposto cenário do fim dos tempos, mas estão cegos para os pontos-finais culturais, eclesiásticos e pessoais que estão se revelando desde a sala do trono de Deus, diante dos olhos deles; pontos-finais que nos afetam diretamente.

     O pós-milenismo é freqüentemente criticado por tornar a escatologia irrelevante e distante, como se tudo o que oferecesse fosse uma viagem indiferenciada a uma meta bem remota. Alguns desejariam que essa caricatura fosse verdadeira. A realidade é: Rushdoony tomou a escatologia na direção inteiramente oposta. Escatologia não mais significa discernir a coreografia de Deus no fim do mundo. Escatologia significa que Deus coloca um fim na sua cultura, na sua igreja e em você mesmo, no tempo que Ele apontou, de acordo com o Seu pacto. Rushdoony extraiu a escatologia do Salmo 27 para fora do presumidamente seguro Saltério, e desatou seu poder bruto no meio das nossas confortáveis salas de estar, santuários de igrejas, salas de aula e salões do governo.

     Como, então, poderíamos resumir a influência de Rushdoony sobre a escatologia, seu impacto sobre o estudo dos eschatons e dos pontos-finais?

Um bom começo.


Martin G. Selbrede, Vice-Presidente da Chalcedon, vive em Woodlands, Texas. Martin é o Cientista Chefe na UniPixel Displays, Inc. Ele tem sido um defensor da Chalcedon Foundation durante um quarto de século.


Fonte: Faith for All of Life, Nov/Dez 2007, p. 24-29

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19 de maio de 2011

O impacto de Rushdoony Parte - 1

O Impacto de Rushdoony sobre a Escatologia


Martin G. Selbrede
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto


   Pós-Milenismo. A escatologia que ensinava que o mundo inteiro seria convertido a Cristo antes do Seu retorno em glória e a introdução da eternidade. A visão que tratava a Grande Comissão como sendo maior que os limites da imaginação debilitada do homem. A idéia que Jesus Cristo seria um dia literalmente o Salvador do Mundo (João 4:42) ao atrair todos os homens para Si (João 12:32).

   Pós-Milenismo. No começo da década de 1970, era a comédia das escatologias: não tinha nenhum respeito. Era a escatologia que ninguém levava a sério. Os pós-milenistas eram vistos como os defensores da terra quadrada no mundo da escatologia. Eles eram desprezados como anti-bíblicos, sobre a autoridade de eruditos dos outros campos, que rotularam os pósmilenistas como estando seriamente em desacordo com a Escritura e com o mundo no qual vivemos. A teoria era irrealista, desacreditada, sem fundamento e privava a Igreja da bendita esperança (como os eruditos da oposição a definiam).


   O pós-milenismo foi declarado como estando morto, com nenhuma voz viva para se levantar em sua defesa. Se os seminaristas encontrassem vestígios dele nas obras dos Puritanos ou eruditos como Hodge e Warfield, eles eram advertidos a ignorar essa fraqueza na de outra forma impecável erudição bíblica daqueles homens: “Nós sabemos mais agora.” Como Hal Lindsey disse dos Reformadores, eles estavam em trevas no que diz respeito à profecia e sua interpretação.

   As coisas deterioraram-se ao ponto que o pós-milenismo foi efetivamente “assassinado”, como evidenciado pelo título do livro “Pré-Milenismo ou Amilenismo”, um título que nega implicitamente que o pósmilenismo seja uma opção legítima digna de consideração. Além de não ser um jogador, o pós-milenismo não estava nem mesmo no banco. Oswald T. Allis escolheu guardar seu pós-milenismo para si mesmo, preferindo o rótulo mais respeitável de “anti-quiliasta” (anti-pré-milenista), pelo menos até o tempo quando o livro de Roderick Campbell, Israel and the New Covenant [Israel e o Novo Pacto], foi impresso pela primeira vez. O pós-milenista Benjamin Breckinridge Warfield, um teólogo altamente respeitado do Seminário Teológico de Princeton, morreu em 1921. O dr. Loraine Boettner entrou em Princeton somente oito anos mais tarde - Warfield e Boettner nunca se encontraram. Mas Boettner se tornaria o único pós-milenista com testosterona espiritual suficiente para escrever, em meados do século 20, um livro que realmente defendia a posição pós-milenista. Era ele uma voz solitária, clamando no deserto, ou apenas um fóssil irrelevante? Em termos de influência no tempo, este velho cavalheiro cristão, firmado nos valores de uma geração anterior, foi convenientemente estereotipado como um retrocesso excêntrico a uma era menos informada. Avaliação: um fóssil.

   Mas então alguém novo apareceu na festa teológica. Uma silhueta de um estranho apareceu na porta de entrada. A música parou, e os seguranças olharam confusos. Um dos eruditos cristãos mais exímios do final do século vinte tinha entrado na questão da escatologia. O dr. R. J. Rushdoony, que tinha lido Warfield vorazmente em sua juventude, que tinha conhecido Boettner pessoalmente, não era apenas um pós-milenista, mas começou a promever a posição ativamente.

   Em 1970, seus comentários sobre Daniel e Apocalipse (Thy Kingdom Come) foram publicados. Em 1971, seu prefácio apareceu na antologia de J.Marcellus Kik intitulada An Eschatology of Victory [Uma Escatologia de Vitória]. The Journal of Christian Reconstruction (O Jornal da Reconstrução Cristã), que a Chalcedon publicava, convocou um Simpósio sobre o Milênio em 1976, enquanto 1978 viu a publicação de um breve, porém poderoso livreto, God’s Plan for Victory: The Meaning of Postmillennialism [O Plano de Deus para a Vitória: O Significado do Pós-Milenismo].

   Como os pós-milenistas esperam uma influência em longo prazo, Rushdoony não se importava com a ausência de resultados instantâneos, mas trabalhava pacientemente para edificar fundamentos que resistiriam à prova do tempo. O lento renascimento do pós-milenismo se assemelha ao milagre do fio de água que vira primeiro riacho e depois um rio, registrado em Ezequiel 47:1-6: movemos-nos desde uma ausência quase total de pósmilenistas até chegar ao tornozelo, até chegar ao joelho e em breve chegarão até a cintura e mais acima. “Viste isto, filho do homem?” (v. 6). Outros eruditos notáveis tinham subido no trem, escrevendo, ensinando, publicando, persuadindo, sendo direta ou indiretamente influenciados pela liderança de Rushdoony (e da Chalcedon). Pode ter sido verdade que na década de 1960, como Hal Lindsey afirma em seu best-seller The Late Great Planet Earth, nenhum erudito que se respeitava, ao olhar para as condições do mundo, chamaria a si mesmo de um pós-milenista. Era preciso alguém mais preocupado com a Escritura do que com o respeito próprio, mais preocupado com a lei-palavra de Deus do que com as condições mundiais, para alterar a direção do discurso escatológico. Rushdoony mudou a cara do debate milenarista no final do século vinte, muito antes de ser respeitável o fato de alguém ser um pós-milenista. No processo, ele não tornou o pós-milenismo apenas respeitável. Ele o tornou formidável!

Esse não é o Pós-milenismo do seu Pai. Ou é?


   Agora que o pós-milenismo está de volta ao cenário escatológico, seus críticos têm descoberto que têm um terceiro candidato nada bem vindo em suas mãos. Duas guerras mundiais não foram suficientes para matar essa teoria irrealista e super-otimista? Aparentemente não.
Os pós-milenistas do século dezenove tiveram que aprender algumas lições da história que poderiam ter aprendido mais facilmente nas scrituras, com respeito ao curso do império mundial como o concebe o pós-ilenismo.

   Eles pensavam que Deus estava para terminar de sacudir os céus e a terra (Hb.12:26-27), que a Pedra cortada sem auxílio de mãos humanas já tinha esmagado as nações e consumido-as, que o progresso em linha reta estava assegurado. Eles tendiam a ler as Escrituras em termos dos tempos (um fenômeno ainda difundido hoje em dia entre outras escatologias).

   Os pós-milenistas hoje foram libertos dessa tendência de andar por vista, de organizar os registros bíblicos para que se ajustem ao momento existencial, em vez de avaliar o momento existencial em termos da Palavra de Deus profética. Foram necessárias duas guerras mundiais para destruir essa influência, para ressucitar o pós-milenismo somente sobre a autoridade da Palavra e rejeitar a tentação de construir escatologias a partir da areia movediça dos eventos mundiais. Mesmo seus críticos concordam que o pó-milenismo moderno baseia toda a sua confiança em seu entendimento da Palavra, e não nos feitos do homem sobre a Terra. O comentário ousado de Greg Bahnsen, citando Romanos 3:4, passou a marcar a fé pós-milenista nas promessas de Deus: “Seja Deus verdadeiro, mas todo homem mentiroso”. Em face de um pós-milenismo revigorizado, os críticos têm abordado a teoria a partir de alguns novos ângulos, procurando uma fissura conveniente na armadura. No caso de Rushdoony, era impossível relacionar o seu pósmilenismo com o milenarismo do evangelho social de Rauschenbach ou dos unitários (pós-milenismo não elaborado com base na Palavra, mas sobre uma confiança humanista num evangelho fundamentalmente estatista). Mas o envolvimento de Rushdoony inspirou um novo rótulo, uma nova classificação.

   De repente, o pós-milenismo de Rushdoony foi denominado de pósmilenismo teonômico, para distingui-lo do pós-milenismo “mais bondoso, gentil e suave” do passado, afetuosamente chamado de pós-milenismo evangélico.

   Os partidários do amilenismo e do pré-milenismo na verdade não tinham nenhuma afeição pela forma anterior de pós-milenismo, sem dúvida, mas ao se referirem a ele nostalgicamente como “mais suave”, davam a entender que o pós-milenismo de Rushdoony era implicitamente áspero: um bicho inteiramente novo. Os polemistas introduziram uma cunha argumentativa entre pós-milenismo teonômico e pós-milenismo evangélico. Na prática estavam dizendo: “Se você tem que ser um pós-milenista, seja um da velha escola como os calmos Boettner, Hodge ou Warfield, os sujeitos agradáveis da quadra que não faziam barulho”. Visto que os teonomistas são desagradáveis e divisivos, o pós-milenismo teonômico é simplesmente a mesma coisa. Na verdade, provavelmente seja pior: ensina o triunfo da teonomia. Que necessidade temos de testemunhos adicionais?

   A implicação levantada é que, visto que a forma anterior é “evangélica”, a forma moderna não é evangélica. A escolha dos termos não é acidental, mas destinada a projetar nos pós-milenistas de hoje uma luz negativa, por inferência, se não explicitamente.

   Não pode ser negado que Rushdoony forneceu uma espinha dorsal para o pós-milenismo moderno. Foi isso verdadeiramente uma inovação? Dificilmente. A maioria dos Puritanos era pós-milenista, e estavam muito mais perto dos ensinos éticos de Rushdoony do que das teorias da lei propostas pelos envangélicos modernos (e.g., dr. Norman Geisler, etc.). Mesmo se não considerarmos a sua oposição firme ao contingente antinomianista, a maioria dos Puritanos representava um movimento teonômico incipiente notavelmente forte.
Muitas passagens-chave pós-milenistas têm um conteúdo teonômico evidente. O Novo Pacto não envolvia apenas que cada um, do menor ao maoir, conhecesse ao Senhor, mas também envolve Deus escrevendo Sua lei em seus corações e mentes (Jr. 31:33; Hb. 8:10, 10:16). A profecia em Isaías 42:1-4 conclui afirmando que as ilhas aguardarão pela lei de Deus, enquanto Isaías 2:3 fala da lei radiando em todo o mundo. Existem dezenas de passagens semelhantes, e seu significado certamente não escapou aos Puritanos.

   O pacote “pós-milenismo teonômico” não é novo, nem Rushdoony o inventou. Ele meramente ajudou a colocar o pós-milenismo de volta ao seu lugar apropriado, depois que os defensores da forma evangélica e mais suave da teoria viram seus pontos de vista apropriadamente enfraquecidos pelo século mais sangrento da história humana registrada. O pós-milenismo tinha se desenvolvido longe do componente teonômico que estava no centro da esperança Puritana. Rushdoony apenas reacoplou o que os anteriores teólogos pós-Puritanos tinham permitido se apartar. Nas palavras de Isaías 58:12, Rushdoony se tornou um reparador de brechas.



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25 de março de 2011

Augustus Nicodemus Lopes e o Calvinismo



Calvinistas estão entre as tradições religiosas mais mal compreendidas da história da Igreja. Sei perfeitamente que alguns deles fizeram por merecer. Há calvinistas que defendem suas convicções sem caridade, gentileza e sensibilidade para com quem diverge. Outros, não conseguem ouvir quem não seja calvinista. Não considero essas atitudes como intrínsecas ao calvinismo. As pessoas são assim porque lhes faltam domínio próprio e humildade, e não porque são calvinistas. Não há nada no calvinismo que exija que calvinistas sejam rudes, intransigentes, mal educados, excessivamente críticos e arrogantes.

     Boa parte das acusações que têm sido feitas aos calvinistas, além de serem generalizações injustas, parecem proceder de uma falta de conhecimento adequado do que os calvinistas realmente acreditam. Como não falo por todos, vou dizer o que eu penso sobre alguns desses pontos mais polêmicos.

     Para começar, o calvinismo não é um bloco monolítico. Há várias correntes dentro dele. Todas se vêem como legítimas herdeiras do legado de João Calvino, desde presbiterianos liberais até puritanos modernos. Considero-me um calvinista dentro da tradição teológica que elaborou e até hoje mantém a Confissão de Fé de Westminster, muito similar às demais confissões reformadas dos batistas, congregacionais, episcopais e reformados.

1 – Creio que Deus predestinou tudo o que acontece, mas não sou determinista. O Deus que determinou todas as coisas é um Deus pessoal, inteligente, que traçou seus planos infalíveis levando em conta a responsabilidade moral de suas criaturas. Ele não é uma força impessoal, como o destino. Não creio que os atos da vontade e da liberdade humanas sejam mera ilusão e que nossa sensação de liberdade ao cometê-los seja uma farsa, como o determinismo sugere. Eu acredito que as nossas decisões e escolhas são bem reais e que fazem a diferença. Elas não são uma brincadeira de mau gosto da parte de Deus. Os hipercalvinistas são deterministas quando negam a responsabilidade humana ou pregam a passividade dos cristãos diante de um futuro inexorável. Por desconhecer essa distinção, muitos pensam que todos os calvinistas são deterministas e que eles vêem o homem como um mero autômato.

2 – Creio que Deus é absolutamente soberano e onisciente sem que isso, contudo, anule a responsabilidade do homem diante dele. Para mim, isso é um mistério sem solução debaixo do sol. Não sei como Deus consegue ser soberano sem que a vontade de suas criaturas seja violentada. Apesar disto, convivo diariamente com essas duas verdades, pois vejo que estão reveladas lado a lado nas Escrituras, às vezes num mesmo capítulo e até num mesmo versículo! (Ex: Atos 2:23).

3 – Encaro a relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana como sendo parte dos mistérios acerca do ser Deus, como a doutrina da Trindade e das duas naturezas de Cristo. A soberania de Deus e a responsabilidade humana têm que ser mantidas juntas num só corpo, sem mistura, sem confusão, sem fusão e sem diminuição de ambas.

4 – Creio que Deus predestinou desde a eternidade aqueles que irão se salvar e, ao mesmo tempo, oro pelos perdidos, evangelizo e contribuo para a obra missionária. Grandes missionários da história das missões eram calvinistas convictos. Calvinistas pregam sermões evangelísticos e instam para que os pecadores se arrependam e creiam. Se quiserem um bom exemplo, leiam O Spurgeon que Foi Esquecido, de Iain Murray, publicado pela PES. Nunca as minhas convicções sobre a predestinação me impediram de ir de porta em porta, oferecendo o Evangelho de Cristo a todos, sem exceção. Após minha conversão, e já calvinista, trabalhei como evangelista e plantador de igrejas durante vários anos, em Pernambuco.

5 – Creio que Deus já sabe, mas oro assim mesmo. Sei que ele ouve e responde, e que minhas orações fazem a diferença. Contudo, sei que ao final, através de minhas orações, Deus terá realizado toda a sua vontade. Não sei como ele faz isso. Mas, não me incomoda nem um pouco. Não creio que minha oração seja um movimento ilusório no tabuleiro da predestinação divina.

6 – Não creio que Deus predestinou todos para a salvação. Da mesma forma, não creio que ele foi injusto nem fez acepção de pessoas para com aqueles que não foram eleitos. Não creio que Deus tenha predestinado inocentes ao inferno, pois não há inocentes entre os membros da raça humana. E nem que ele tenha deixado de conceder sua graça a pessoas que mereciam recebê-la, pois igualmente não há pessoa alguma que mereça qualquer coisa de Deus, a não ser a justa condenação por seus pecados. Deus predestinou para a salvação pecadores perdidos, merecedores do inferno. Ao deixar de predestinar alguns, ele não cometeu injustiça alguma, no meu entender, pois não tinha qualquer obrigação moral, legal ou emocional de lhes oferecer qualquer coisa. Penso assim pois entendo que a Queda de Adão veio antes da predestinação na seqüência lógica (não na seqüência histórica) em que Deus elaborou o plano da salvação.

7 – Creio que Deus sabe o futuro, não porque previu o que ia acontecer, mas porque já determinou tudo que acontecerá. Por isso, entendo que a presciência de que a Bíblia fala é decorrente da predestinação, e não o contrário. Quem nega a predestinação e insiste somente na presciência de Deus com o alvo de proteger a liberdade do homem tem muitos problemas. Quem criou o que Deus previu? E, se Deus conhece antecipadamente a decisão livre que um homem vai tomar no futuro, então ela não é mais uma decisão livre. Nesse ponto, reconheço a coerência dos socinianos e dos teólogos relacionais, que sentiram a necessidade de negar não somente a soberania, mas também a presciência de Deus, para poderem afirmar a plena liberdade humana.

8 – Creio que apesar de ter decretado tudo que existe desde a eternidade, Deus acompanha a execução de seus planos dentro do tempo, e se comunica conosco nessa condição. Quando a Bíblia fala de um jeito que parece que Deus nem conhece o futuro e que muda de idéia o tempo todo, é Deus falando como se estivesse dentro do tempo e acompanhando em seqüência, ao nosso lado, os acontecimentos. É a única maneira pela qual ele pode se fazer compreensível a nós. Quem melhor explica isso é John Frame, no livro Nenhum Outro Deus, lançado pela Editora Cultura Cristã. Minha esposa teve o privilégio de traduzir e eu de prefaciar essa obra, a primeira em português a combater a teologia relacional.

9 – Creio que Deus é soberano e bom, mas não tenho respostas lógicas e racionais para a contradição que parece haver entre um Deus soberano e bom que governa totalmente o universo, por um lado, e por outro, e a presença do mal nesse universo. Diante da perversidade e dos horrores desse mundo, alguns dizem que Deus é soberano mas não é bom, pois permite tudo isto. Outros, que ele é bom mas não é soberano, pois não consegue impedir tais coisas. Para mim, a Bíblia diz claramente que Deus não somente é soberano e bom – mas que ele é santo e odeia o mal. Ao mesmo tempo, a Bíblia reconhece a presença do mal do mundo e a realidade da dor e do sofrimento que esse mal traz. Ainda assim, não oferece qualquer explicação sobre como essas duas realidades podem existir ao mesmo tempo. Simplesmente pede que as recebamos, creiamos nelas e que vivamos na cereteza de que um dia ele haverá de extinguir completamente o mal e seus efeitos nesse mundo.

10 – Estou convencido que o calvinismo é o sistema doutrinário mais próximo daquele ensinado na Bíblia, ao mesmo tempo em que confesso que ele não tem todas as respostas. Todavia, estou convencido que os demais sistemas têm menos respostas ainda. Leio autores das mais diferentes persuasões teológicas. Às vezes tenho sido mais desafiado e tenho aprendido mais com livros de outras tradições. Não deixo de ouvir alguém somente porque não é calvinista. Há calvinistas que não são assim. Contudo, é uma injustiça acusar a todos de estreiteza, sectarismo, obscurantismo e preconceito.

     Espero ter deixado claro que um calvinista, para mim, é basicamente um cristão que tem a coragem de aceitar as coisas que a Bíblia diz sobre a relação entre Deus e o homem e reconhecer que não tem explicações lógicas para elas. Para muitos, esse retrato é de alguém teologicamente fraco e no mínimo confuso. Mas, na verdade, é o retrato de quem deseja calar onde a Bíblia se cala.

Por Augustus Nicodemus Lopes

24 de março de 2011

Comprados com Sangue

     "E veio, e tomou o livro da destra do que estava assentado no trono. E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação;E para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra". Apocalipse 5; 7-10.


     Esta passagem de Apocalipse, é a cerca da visão que o Apóstolo João teve sobre o Livro selado do Apocalipse, não quero ser insano ao ponto de dizer que tive uma revelação sobre o que estava escrito no Livro, mas tive uma visão simples sobre o assunto.


     Essa passagem diz que João ouviu uma voz (capítulo4), como a de um relâmpago, que o chamava para lhe mostrar as coisas que iriam acontecer; Nessa visão, ele vê Um Trono onde quem está assentado tem uma aparência de certa forma difícil de explicar, contudo essa aparência era simplesmente maravilhosa, maravilhosa de tal forma que os vinte e quatro anciãos, e os seres viventes o adoravam, o reverenciando, dando honras e glória ao que estava assentado sobre o Trono. Em meio a essa maravilhosa visão, ele vê na mão do que estava assentado sobre o Trono, um livro, e esse livro era escrito por dentro e por fora (Isso é comum em qualquer livro), mas havia um detalhe neste livro, ele era selado, ou seja, lacrado. Ao ver este livro, ele também vê um anjo, que ele descreve como um anjo forte, e esse anjo faz um clamor dizendo: Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus selos?
Os céus e a terra, e até de baixo da terra se calaram, pois não havia ninguém que fosse digno de abrir o livro e desatar os seus selos. João então passa a chorar compulsivamente,pois não havia ninguém. Até que um dos anciãos, virou-se para João e disse: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos. Uma alegria enche o coração de João, pois agora ele vê entre os anciãos e seres viventes, um que é semelhante a um Cordeiro que foi Morto, e Esse pega o livro da mão do que está assentado sobre o Trono, e imediatamente os anciãos e os seres viventes se prostram diante daquele que é semelhante a um cordeiro, e entoam um cântico dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação; E para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra.


Agora note um detalhe importante no versículo 9: Porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação. O texto diz que o cordeiro morreu e com o seu sangue, comprou homens, de toda tribo, língua, povo e nação. Antes de dar continuidade, quero que você raciocine comigo; Imagine que você queira comprar uma casa, você vê o valor que ela custa e então ajunta o dinheiro para poder comprá-la, após ir ao cartório, resolver todos os tramites e fazer o pagamento a casa passa a ser sua, pois você pagou o valor devido. Continuando a analise do texto, vemos que o texto diz que Jesus (Cordeiro), comprou homens de toda tribo, língua, povo e nação. Pela lógica simples, como vimos no exemplo da compra de uma casa, se Ele comprou logo Ele é dono, e se Ele é dono, Ele faz o que quer é bem entende com o que é Dele.


     Note que o texto diz que: Ele comprou Homens de toda tribo, língua, povo e nação, e não Todos os homens, da tribo, língua, povo e nação. Isso significa que o cordeiro não comprou todos os homens (humanidade), mas sim, homens de todos os lugares, esses são propriedade sua, pois comprou com o seu sangue, assim como, quando eu compro algo esse algo passa a ser meu. Logo, aqueles que foram comprados por Cristo, são de Cristo e isso é tão certo, como o sol, é o sol, e a lua, é a lua, não há variação, o sol não se torna lua, nem a lua se torna sol, todos os que foram comprados, foram comprados e não podem se perder, e os que não foram comprados, não foram comprados, e não há como ser incluído no número dos comprados.


Leonardo Ribeiro

21 de fevereiro de 2011

18 de fevereiro de 2011

O que é o Homem?

     Dentro de uma lógica simples de nossa mentalidade, se nos fosse perguntado, o que é o homem? Qual seria nossa resposta? Provavelmente responderíamos que, o homem é um mamífero, da família dos bípedes, sendo racional; homo sapiens; ou, ser humano dotado de inteligência, o que o diferencia dos outros animais; ou, o ser criado diretamente pelas mãos de Deus, onde após o formar do barro, soprou em suas narinas dando-lhe o fôlego de vida; a coroa da Criação. Certamente, qualquer uma dessas definições seria bem cabida, mas essa é a lógica simples de nossa mentalidade, é bem verdade que não conhecemos a nós mesmos, e em se tratando de sermos criatura, é bastante lógico que o criador dê uma definição correta sobre a coisa criada; sendo Deus o criador, o que Ele diria sobre o que é o homem? (Lembrando que homem é no sentido de humanidade)


     Para entendermos o que Deus diz do homem, é preciso analisar dois períodos, ou seja, antes e depois da queda. Quando tratamos o assunto, dentro da premissa da criação, vemos que todas as definições que daríamos, seria a mesma de Deus, em uma exclamação simples Deus diz: E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto. Gênesis 1: 31. O texto nos diz que, “tudo quanto havia feito...era muito bom”. Simplesmente perfeito, foi essa a condição do homem ao ser criado, e nós quando pensamos no homem, ainda o vemos nessa condição, mas houve um fato em que essa condição de perfeição foi perdida, a esse fato chamamos de queda.


     A queda deu-se no momento em que o homem desobedeceu a Deus, contrariando sua ordem de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois no dia em que isso viesse a acontecer o homem certamente morreria, e foi justamente isso que aconteceu, o homem comeu e a morte passou a reinar nos seus membros, tirando a condição de criatura perfeita, foi degenerado e com a degeneração, passou a não ser a mesma criatura que fora feita perfeita, o homem passou a ter uma outra condição de vida que fora determinada ainda no Jardim do Édem.


     A queda do homem trouxe conseqüências drásticas, como o sofrimento para se alimentar, a dor de parto, a terra se tornou maldita, produzindo espinhos e plantas venenosas, mas nenhuma dessas conseqüências foi tão terrível quanto à morte, a morte é o mesmo que a ausência de vida, nesse caso morte é a ausência de Deus, existe uma separação uma barreira que restringe o homem de Deus, essa barreira se chama pecado - Isaias 59:2 "Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça" .


     O homem fora criado perfeito, mas uma vez tendo pecado perdeu essa condição, então vamos à pergunta: o que é o homem? Deus falou que no dia em que o homem comesse do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, certamente morreria, dentro de uma lógica simples, digo que o homem é um ser morto, essas palavras foram bem enfatizadas por Jesus, como vemos em João 5:40 "E não quereis vir a mim para terdes vida". Neste texto, Jesus está declarando que aquelas pessoas estavam mortas, não em um sentido físico, mas em um sentido espiritual, e por estarem mortos não queriam ir até Ele para serem revividos, existe algo curioso por trás desta afirmação, já que Jesus declara que eles estão mortos (espiritualmente falando), o que necessariamente um morto pode fazer? Não irei entrar nesta questão agora, vou me fixar em o que é o homem.


     O ser humano orgulha-se da sabedoria, e do poder de escolha, é bem verdade que somos sábios no que tange a evolução, e escolhemos aquilo que nos apraz; Imagine agora um viciado em crack (o crack tem sido uma das maiores pragas deste século), uma pessoa que outrora tinha sua vida normal, e por ter experimentado o crack, se tornou dependente da mesma, onde já não tem vida social, não consegue se alimentar, nem dormir, todo o dinheiro que consegue, é gasto tentando saciar a sede de consumir, e quanto mais ela consome, sua vida vai sendo consumida, escravizada pelo prazer que dura apenas algumas puxadas no cachimbo;


Triste ver algo assim, pessoas cegas pelo desejo que às consome, agora mais triste que essa condição é a que vemos em João 8:34 "Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado". Jesus está sendo enfático neste texto, todo aquele que comete pecado é escravo do pecado, talvez haja alguém que diga: Jesus falou que todo aquele que comete pecado, aí eu retruco perguntando, mas quem não comete pecado? Romanos 3:23 diz claramente que: "Todos pecaram", e para não ter uma idéia de que a palavra todos, não inclua cada um individualmente, temos que voltar alguns versículos e ver em 3:10b "Não há um justo, nem um se quer". O ser humano é escravo do pecado, não tem vontade por si mesmo, onde tudo o que deseja está ligado ao seu senhor, e a vontade que lhe é outorgada tem um fim comum, pecar, e pecar! O homem é tão escravo do pecado, que até suas obras mais justas são pecaminosas, como vemos em Isaias 64:6a "Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia”.


     Vamos analisar um pouco mais Romanos 3:23. "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus". A palavra destituir dá idéia de demissão de um trabalho, ou de ser deposto, que é arrancar do posto, ou função; destituir é colocar a parte, separar, e nesse texto afirma o que é o homem, o homem é destituído da glória de Deus, ou seja, não tem parte da glória de Deus, embora seja passada uma falsa esperança, onde alguns pensem que quando morrer vão descansar e se encontrar com Deus, a realidade é bem diferente, pois por causa do pecado, o homem não tem parte da glória de Deus.


     Dentro dessas três definições do que é o homem, existe um ponto comum, e qual seria este ponto? Se analisarmos a primeira definição, vamos ver que o homem é morto, na segunda ele é escravo, e na terceira ele é separado de Deus e de Sua Glória; O ponto comum nas três definições é o pecado. Dentro da ciência, o que nos diferencia dos demais seres vivos é a sabedoria, logo é natural do homem ser sábio, mesmo estando dentro de suas limitações; Assim como a ciência afirma que o homem é sábio, e por isso ele é homem, também a Bíblia afirma que todo homem é pecador - Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus. - Não há um justo, nem um se quer Rm 3:23/ 3:11. No momento da queda, a natureza humana foi corrompida pelo pecado, e por isso todos foram feitos pecadores, como vemos em Romanos 5:12 "Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram". Às vezes pensamos que pelo fato de Deus haver dito que aquela árvore era a árvore do conhecimento, achamos que o pecado se dá quando passamos a ter um raciocínio lógico, quando começamos a maioridade, onde distinguimos facilmente entre o certo e o errado, entre o bom e o ruim, essas simples afirmações de Romanos são suficientes para provar que não existe idade para ser pecador, o homem é pecador, mesmo ainda quando criança, por mais louca que possa parecer essa afirmação, mas é o que Deus diz, vejamos Gênesis 8:21 " E o Senhor sentiu o suave cheiro, e o Senhor disse em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz". Isso nos remete a entendermos, que até as crianças estão contaminadas pelo pecado, pois o pecado não está ligado a sabedoria, mas a raiz humana, ou seja, a natureza humana está contaminada pelo pecado. A Árvore do Conhecimento do bem e do mal, não era a árvore do pecado, mas comer do fruto desta árvore era pecado, e uma vez tendo comido do fruto, o conhecimento do bem e do mal ficou patente aos olhos de toda humanidade, então, após o homem comer ele teve a ciência de que tinha pecado, pois o pecado já tinha se tornado parte de sua vida e essa conseqüência atingiria toda humanidade. Uma ultima análise, num texto de Davi, vejamos: “Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” Salmos 51:5. Por acaso ele estava dizendo que o sexo entre o pai e a mãe dele era pecado? Ou que o momento do parto era pecado? Não, não para as duas perguntas, o sexo fora ordenado por Deus antes mesmo de haver pecado, logo, o sexo não foi uma obra do pecado, mas de Deus, como também o parto, Deus disse: “crescei e multiplicai” , então, nem o parto era pecado; Davi não estava falando do ato sexual, nem do parto, mas de algo ligado a formação do ser, no momento da formação onde há a junção do óvulo e do sêmen, no momento das misturas químicas que há no sangue do pai e da mãe, a herança genética de Adão se mistura as demais coisas, formando um ser contaminado pelo pecado; um exemplo simples, todos já viram bebes de colo, e quem nunca viu um bebe desses fazendo pirraça, pirraça é uma resistência a autoridade, ou seja, desobediência, quem ensina um bebe a fazer pirraça? No momento de minha formação, já havia em mim a iniqüidade e no instante em que nasci, estava envolto no pecado.
O que é o Homem? PECADOR!!!


     Pela Graça sois salvos por meio da Fé, e isso não vem de vós é Dom de Deus. Efésios 2:8


Leonardo Ribeiro